quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um Luar Desbundante

Ao contrário de seus amigos de então, Caetano sempre foi um adolescente desapegado aos vícios mais comuns da sua geração.

Não demonstrava interesse em ir a shows de rock ou a boates da moda. Não via graça nenhuma na mesa de um bar, e muito menos em passar o tempo falando sobre carros e motores. Salvo alguns goles de Biotônico Fontoura, não havia posto, até então, qualquer substância alcoólica em sua boca.

Para não ser de todo diferente, deve-se registrar que pensava sempre em sexo – o que, em linhas gerais, fazia dele um típico adolescente.

Costumava ficar recolhido em seu quarto, perdido em devaneios que registrava poeticamente em seu diário, e pouco saía; nem mesmo nos finais de semana. A verdade é que chegou a se divertir muito mais aos doze, treze anos quando ainda era meio menino, do que aos dezoito, quando a aproximação junto às mulheres já não se dava de forma tão espontânea, dado que se sentia ainda um meio homem. E tímido. Passava o tempo tentando entender como se aproximaria delas indo dormir tão cedo...

Naquela noite, após registrar ardentes desejos em seu diário, Caetano olhou para a janela e tentou compreender a excitação de uma sexta-feira. A chuva fina que caíra durante a tarde deixara poças d’água pelo asfalto, multiplicando o cintilar e as cores das luzes da noite. Em frente à sua janela havia um posto de gasolina, onde se situava também uma loja de produtos de conveniência.

Eram quase 10hs e o movimento de carros era intenso. Na linha do horizonte, a borda amarela da lua cheia se pronunciava. Observou garotões excitados e moças que falavam sem parar. Enquanto eles se empurravam pelo estacionamento e compravam bebida, elas permaneciam no carro, entre fofocas, risos e gritinhos.

Mas não se identificava em nada com eles. Da janela, ele esticava a vista, talvez na esperança de que uma delas percebesse sua presença, e por ele largasse toda aquela “vida bandida”... Mas por mais que tivesse brilho no olhar, Caetano se colocava muito distante da realidade para poder iluminá-la.

Não se sabe, porém, se pelas influências da lua ou se por motivos outros, fato é que Caetano sentiu, naquele momento, uma agitação incomum. No dia seguinte, teria de acordar cedo para ir treinar... Mesmo assim, ousou!

Meteu-se numas calças folgadas e tirou do armário uma camisa bem confortável. Contra o frio, um casaco bem quentinho. E saiu à rua.

Em frente à porta de casa, decidiu o itinerário; nada mais simples: iria caminhando até encontrar uma rua bem movimentada. Daria uma pernada e voltaria, bastando para saciar suas vontades e suas carências – ao menos nas aparências.

Antes, deu uma rápida passada pelo posto, onde comprou comprou um litro de iogurte de pêssego. E pôs-se a caminhar.

A noite estava realmente interessante! Fresca, calma, insinuante. Nada como a brisa quando se tem calor guardado dentro do peito. Os passos eram dados sem pressa, procurando cada graveto ou superfície que pudesse produzir um ruído novo. E o iogurte, então, descia como goladas de scotch, dando a ele a sensação de ser um poeta perdido madrugada afora. Buscava o glamour das meias-luzes dos postes e falava sozinho, como se acreditasse que Deus o estivesse guardando, escutando a cada cochicho.

Ao chegar, deparou-se com uma avenida tomada por habitantes da alcova.

Por entre roqueiros, artistas, cabeludos e muitas latas de cerveja, avistou Regina, colega de escola.

De traços finos e sobrancelhas sinuosas, era uma linda mulata. A beleza fora roubada da mãe, que chegou a ser eleita Miss Mato Grosso em tempos idos; a sensualidade, herança dos subúrbios e das praias do Rio de Janeiro, onde nasceu o pai.

E não era só isso: Regina, além de linda e exageradamente sensual, guardava, há mais de ano, uma grande paixão por Caetano. Paixão não correspondida que, recolhida, ainda lhe doía no fundo do peito.

Quando se conheceram, ele tinha namorada e lhe era fiel. Agora, sem razão para retidões, Caetano era somente impulso.

Regina estava sentada na calçada, cabisbaixa, alheia ao caos que imperava ao seu redor. Ele, apesar de atraído, não encontrara, ainda, meios para corresponder aos sentimentos dela. Aproximou-se.

- Regina?... -, disse, tocando o ombro da moça, que parecia enxugar algumas lágrimas. Ele insistiu: - O que tá fazendo aí?
- Tô sentada...
- Sim, mas... Mas, aí?!
- É.
- (...) Parece que tá meio sujo, esse chão...
- É, parece.

O ambiente estava carregado, mas mesmo sentada no chão, Regina não pertencia àquele local. Ele, pouco afeito a toda aquela agitação, resolveu arriscar e convidou-a para “uma caminhada”. Sem nada dizer, ela se levantou e seguiu Caetano.

Enquanto caminhavam, Regina não falou – e nem iogurte aceitou. Caetano procurava palavras certas ou coisas que a pudessem agradar, mas nada a fazia sorrir. De repente, passando exatamente pela frente de sua casa, Caetano, muito maliciosamente, sugeriu: - “Veja, Regina, é aqui que eu moro...”, e sem pensar muito, arrebatou, - “Quer subir?”. Regina o fitou por alguns segundos e novamente acatou a idéia do amigo. Não falou qualquer “porém”, o que o deixou apreensivo, e também esperançoso.

Todos os devaneios que imaginou da janela apequenaram-se diante daquela situação. O que há poucos instantes lhe parecia tão inalcançável mostrava-se, agora, uma tangível realidade.

Enquanto subiam a escada, trocaram olhares, mas nenhuma palavra. À porta de casa, tranqüilizou-a: -“Não se preocupe; estamos sozinhos...”.

Chegando ao seu quarto, abriu a grande janela, revelando uma lua já majestosa e dona dos céus. Ela, por sua vez, simplesmente se jogou pesadamente sobre a cama. Isso o incomodou: - “Regina, você não pode se deitar com esta calça... Você estava sentada no chão sujo e... -, antes que ele pudesse terminar – e como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo -, Regina se levantou e tirou a calça, deitando-se novamente...

Nem em seus pensamentos mais descarados ele encontraria espaço para um diálogo tão fluido como esse. Regina, com seus 17 anos, não fizera qualquer objeção a tudo o que lhe fora proposto, e estava, agora, deitada em sua cama, com a barriga para baixo, trajando uma singela calcinha branca com rendinhas...

A desavergonhada exposição da bunda majestosa de Regina fez Caetano se sentir totalmente à vontade. A ponto de se esquecer de todas as falas e argumentos que havia ensaiado para momentos como aquele. Regina os fez desnecessários.

Ao olhar para aquele espetáculo, Caetano sentiu o pau se avolumar abruptamente. Pelo vão da janela, o brilho lunar, quase azul, deu um tom fluorescente às rendas da calcinha dela, aumentando o contraste com sua pele morena, lisa e macia, que ele agora tocava suavemente, estimulando-a a exalar o marcante cheiro do sexo...

Ante a total aceitação da parceira, Caetano apressou-se em lançar longe toda a roupa. E logo estava deitado aos pés dela, percorrendo toda a extensão de suas pernas com as mãos... Depois com o nariz... Até tocá-la com os lábios... E a língua... Descobrindo, por baixo da calcinha branca, um sexo pleno, vermelho, que pulsava, latejante...

E então, já totalmente entorpecido de prazer, Caetano pode aprender, pelo toque quente e molhado do corpo de Regina, que havia, afinal - e para além das palavras - formas efetivamente verdadeiras de se comunicar com alguém.

Até hoje, pouco se falam, embora entendam-se à perfeição.

8 comentários:

Roseane z disse...

"Navegar é preciso, viver não é preciso." Por isso é que gosto de P.I. ( programa de índio).Sem bússola, são as estrelas que guiam, e, como quase ninguém sabe ler nas estrelinhas - entrelinhas, tá todo mundo desorientado, e, para alegria geral, vivendo!!!!!! Maltrapa, terceira pessoa é o que há.Sua amiga deu o pitaco certo!Seus textos estão emocionantes, isentos de maiores julgamentos!!!Acho que vc. está se tornando um ser “politicamente incorreto”.Uff....já era tempo!
p.s.-Da próxima vez que eu for a sua casa, exija que eu tire os sapatos.....com todo respeito , é claro!!!!!

Roseane z disse...

Comentário extra: sacanagem sempre alegra,né!!!!

O Maltrapa disse...

Na verdade não foi um pitaco da minha amiga, mas um comentário que fiz, quando afirmei que escrever na 3ª pessoa era uma ótima maneira de se criar personagens, pois pode-se, com mais naturalidade, colocar arte e verdade na mesma canção; é o que vem ocorrendo.

Lei Universal, Ms. Z: Sacanagem sempre alegra!

Beijão,

O Maltrapa

Ps: sempre fui politicamente incorreto, mulher; só não vê quem não quer! Hahahaha!!!

Ana Catarina disse...

Bateu legal esse texto!
Obrigada!

O Maltrapa disse...

Beleza pura sem mistura, Ana!

É um bom texto para se levar para a cama, né? Hahahaha!

Volte sempre!

O Maltrapa

Catarina Franco disse...

kkkkkkkkkkkkkkk
pra se levar pra cama???
com certeza!!!
Se volto sempre não digo, mas aposto que não vou embora tão cedo. Gostei daqui! (ta ferradooo)
um bjo e um queijo!

Luna disse...

M-A-G-N-I-F-I-C-O.

sem rodeios, sem palavras.
quando crescer, quero escrever assim,com essa riqueza de detalhes,com esse jeito tornar sacanagem numa coisa bonita e gostosa de ler.

porque demorei tanto pra ler, hunf!

Beijones estalados pelo conto!

L.

O Maltrapa disse...

Demorou porque, provavelmente, você estava ocupada demais com outras coisas mais bonitas e gostosas de se fazer, hahaha!!!

Vou elaborar um outro texto assim, a ver se o aceitam DEBAIXO DO SALTO AGULHA; que lhe parece?

Beijão,

O Maltrapa