À hora da janta, enquanto sorvia a papinha de legumes que mamãe amassava com o garfo, eu pensava no assunto. Era necessário dar à minha namorada a certeza do meu querer. “Espero você compreenda”, pensei, olhando para minha mãe, que fazia aviãozinho com a colher de sopa, rumo ao “aeroporto do João”.
No dia seguinte, ao cair da tarde, lá estávamos, “como indiozinhos”, sentados em frente à nossa tia. Nenhuma dúvida que eu estava no mesmo lugar que o da véspera.
Não esperei muito tempo para dar sequência ao plano. Nem mesmo ela começou a falar e me adiantei, tocando seus pés. Antes, com a pontinha dos dedos, ainda hesitante e com o coração batendo forte; depois, mais confiante, com as mãos espalmadas, sentindo a pele e o relevo das veias e tendões ressaltados pelas tiras da sandália de saltinho baixo. Puro deleite!
Tocava seu tornozelo, delineando suas curvas, e achei por bem insinuar-me mais, ir além. O ano era o de 1981, e, infelizmente (para minhas pretenções), as calças boca-de-sino já eram démodé.
Resolvi me infiltrar. Minha mãozinha, lépida e alva como uma aranha albina baiana, começou a escalar aquela canela. Obviamente eu nem imaginava o sentido ou mesmo a existência do verbo depilar, mas hoje tenho condições de afirmar que ela não fazia isso com freqüência. No entanto, por ainda não dispor desse discernimento, achava tudo íntimo e propício.
Tinha certeza de que mesmo com metade do braço enfiado na calça Lee da tia, ninguém sequer desconfiava da operação em curso. Aliás, a balela toda começava a fazer sentido, pois já era possível inferir que o mais importante não era se ligar nas personagens, mas na vogal inicial dos respectivos nomes: Alicate, Escova, Índio, Óculos e Urso de Pelúcia. A tia queria ensinar-nos o “aéióu”! Momento histórico!
Mesmo acompanhando o “raciocínio” da estorinha, minha cabeça estava fora daquela órbita, em total perdição. Eu não era mais nada e não sentia mais nada. Melhor: eu sentia tudo e não queria saber mais de nada. Nem se neguinho havia se tocado do que estava rolando; minha vida era aquela canela (e seus pelinhos nascentes, claro). Àquela altura, eu já subia e descia o bracinho com certa naturalidade, acariciando-a até onde dava.
Apesar de já me sentir um pouco como o dono do pedaço, a tensão ainda era grande, muito embora o prazer alcançado compensasse qualquer loucura! Um prazer que eu não tinha sequer como dimensionar; sensação igual eu nunca havia sentido em todos meus seis anos de existência. Ao menos não de forma tão consciente. Eu buscava o que muito queria, e conseguia! Minha excitação era enorme, e tudo se tornara explícito, para qualquer um ver. Na verdade, quem haveria de querer prestar atenção num taradinho galego aliciador de tias? Todo mundo lá, com olhinhos vivazes e boquinhas entreabertas, ávidos por saber como terminaria a saga vocálica, e eu cá, em êxtase, metido em minha primeira experiência sexual – ainda que unilateralmente.
Eu tocava sua perna e tremia. Não poderia existir nada melhor que a perna da minha tia... Aliás, do que a batata da perna da minha tia (sim, eu já acariciava a batata!). E aí notei que ela já tinha “me sacado”. E mais; não oferecera nenhuma resistência! Fabuloso! Sim, pois ela me instigou a “querer mais”, ativando tenros instintos. Fechei os olhos e imaginei minha mãozinha percorrendo perna acima. Chegando à virilha, imaginei muitos pêlos, algo comum naqueles tempos. Tudo aquilo era, para mim, o anúncio de um noivado; nada mais nos separaria, estava claro.
Já me indagava como seria me tornar marido da minha professora. Isso certamente me daria mais autoridade no Jardim, e poderia ser ótimo para a hora dos deveres e das provas.
Sentindo que em breve escutaríamos o dingue-lingue da sineta, resolvi acabar com as formalidades. Literalmente deitado a seus pés, enfiei todo meu braço - até o ombro!-, mas não alcancei nem o joelho... E veio o dingue-lingue. E também o fim da saga. E a dispersão total.
Após a deliciosa euforia, o relaxamento... O melhor relaxamento que existe. Nem saí junto com a galera, e acho até que saí depois das menininhas. Definitivamente eu estava me tornando um cavalheiro; o ritual de passagem fora cumprido e eu estava pronto para assumir as responsabilidades do meu ato.
Ou não, pois – e aqui peço licença para o uso do chavão- o destino me pregou uma peça!...
Saí à frente da minha tia, que logo passou à minha frente, para logo à frente encontrar seu amigo motoqueiro; seu namorado. Eu sei, porque eu vi a motoca! E vi que ele usava casaco de couro preto. E que eles se beijaram. E sorriram.
Foi frustrante, mas coisa pequena, pois ela logo haveria de dar-lhe as boas novas sobre a nossa situação. Qual nada! No dia seguinte, já não foi minha “noiva” quem entrou pela porta da minha classe, mas a diretora, dizendo que seria ela a nossa tia, enquanto a nova professora não chegasse. A antiga professora teve de viajar por problemas de saúde na família(!)... Aquilo, sim, foi impactante!
Aos seis anos tudo é efêmero, tudo é de momento. Foi uma paixão súbita e passageira. Pensei naquela decepção por alguns dias. Poucos. Ou nem isso. A nova tia chegou, mas não chegava aos pés... Aos pés, da minha primeira paixão.
Como outra grande recordação do prezinho, lembro perfeitamente da experiência do feijão no algodão, o que também me maravilhou, mas menos.
No dia seguinte, ao cair da tarde, lá estávamos, “como indiozinhos”, sentados em frente à nossa tia. Nenhuma dúvida que eu estava no mesmo lugar que o da véspera.
Não esperei muito tempo para dar sequência ao plano. Nem mesmo ela começou a falar e me adiantei, tocando seus pés. Antes, com a pontinha dos dedos, ainda hesitante e com o coração batendo forte; depois, mais confiante, com as mãos espalmadas, sentindo a pele e o relevo das veias e tendões ressaltados pelas tiras da sandália de saltinho baixo. Puro deleite!
Tocava seu tornozelo, delineando suas curvas, e achei por bem insinuar-me mais, ir além. O ano era o de 1981, e, infelizmente (para minhas pretenções), as calças boca-de-sino já eram démodé.
Resolvi me infiltrar. Minha mãozinha, lépida e alva como uma aranha albina baiana, começou a escalar aquela canela. Obviamente eu nem imaginava o sentido ou mesmo a existência do verbo depilar, mas hoje tenho condições de afirmar que ela não fazia isso com freqüência. No entanto, por ainda não dispor desse discernimento, achava tudo íntimo e propício.
Tinha certeza de que mesmo com metade do braço enfiado na calça Lee da tia, ninguém sequer desconfiava da operação em curso. Aliás, a balela toda começava a fazer sentido, pois já era possível inferir que o mais importante não era se ligar nas personagens, mas na vogal inicial dos respectivos nomes: Alicate, Escova, Índio, Óculos e Urso de Pelúcia. A tia queria ensinar-nos o “aéióu”! Momento histórico!
Mesmo acompanhando o “raciocínio” da estorinha, minha cabeça estava fora daquela órbita, em total perdição. Eu não era mais nada e não sentia mais nada. Melhor: eu sentia tudo e não queria saber mais de nada. Nem se neguinho havia se tocado do que estava rolando; minha vida era aquela canela (e seus pelinhos nascentes, claro). Àquela altura, eu já subia e descia o bracinho com certa naturalidade, acariciando-a até onde dava.
Apesar de já me sentir um pouco como o dono do pedaço, a tensão ainda era grande, muito embora o prazer alcançado compensasse qualquer loucura! Um prazer que eu não tinha sequer como dimensionar; sensação igual eu nunca havia sentido em todos meus seis anos de existência. Ao menos não de forma tão consciente. Eu buscava o que muito queria, e conseguia! Minha excitação era enorme, e tudo se tornara explícito, para qualquer um ver. Na verdade, quem haveria de querer prestar atenção num taradinho galego aliciador de tias? Todo mundo lá, com olhinhos vivazes e boquinhas entreabertas, ávidos por saber como terminaria a saga vocálica, e eu cá, em êxtase, metido em minha primeira experiência sexual – ainda que unilateralmente.
Eu tocava sua perna e tremia. Não poderia existir nada melhor que a perna da minha tia... Aliás, do que a batata da perna da minha tia (sim, eu já acariciava a batata!). E aí notei que ela já tinha “me sacado”. E mais; não oferecera nenhuma resistência! Fabuloso! Sim, pois ela me instigou a “querer mais”, ativando tenros instintos. Fechei os olhos e imaginei minha mãozinha percorrendo perna acima. Chegando à virilha, imaginei muitos pêlos, algo comum naqueles tempos. Tudo aquilo era, para mim, o anúncio de um noivado; nada mais nos separaria, estava claro.
Já me indagava como seria me tornar marido da minha professora. Isso certamente me daria mais autoridade no Jardim, e poderia ser ótimo para a hora dos deveres e das provas.
Sentindo que em breve escutaríamos o dingue-lingue da sineta, resolvi acabar com as formalidades. Literalmente deitado a seus pés, enfiei todo meu braço - até o ombro!-, mas não alcancei nem o joelho... E veio o dingue-lingue. E também o fim da saga. E a dispersão total.
Após a deliciosa euforia, o relaxamento... O melhor relaxamento que existe. Nem saí junto com a galera, e acho até que saí depois das menininhas. Definitivamente eu estava me tornando um cavalheiro; o ritual de passagem fora cumprido e eu estava pronto para assumir as responsabilidades do meu ato.
Ou não, pois – e aqui peço licença para o uso do chavão- o destino me pregou uma peça!...
Saí à frente da minha tia, que logo passou à minha frente, para logo à frente encontrar seu amigo motoqueiro; seu namorado. Eu sei, porque eu vi a motoca! E vi que ele usava casaco de couro preto. E que eles se beijaram. E sorriram.
Foi frustrante, mas coisa pequena, pois ela logo haveria de dar-lhe as boas novas sobre a nossa situação. Qual nada! No dia seguinte, já não foi minha “noiva” quem entrou pela porta da minha classe, mas a diretora, dizendo que seria ela a nossa tia, enquanto a nova professora não chegasse. A antiga professora teve de viajar por problemas de saúde na família(!)... Aquilo, sim, foi impactante!
Aos seis anos tudo é efêmero, tudo é de momento. Foi uma paixão súbita e passageira. Pensei naquela decepção por alguns dias. Poucos. Ou nem isso. A nova tia chegou, mas não chegava aos pés... Aos pés, da minha primeira paixão.
Como outra grande recordação do prezinho, lembro perfeitamente da experiência do feijão no algodão, o que também me maravilhou, mas menos.