quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um São João Inesquecível


Por ser hoje o meu dia, queria me lembrar de um São João perfeito, daqueles com comida, bebida, fogueira e mulé. Não consegui, mas lembrei de um outro, quando foi quase tudo perfeito. A perfeição só cabe mesmo em nossa imaginação.

Foi numa festinha junina para pirralhos. Eu tinha oito anos e freqüentava, junto com meus irmãos, uma colônia de férias haribô. A empreitada acabou dando tão certo que depois virou uma escola infantil “alternativa” - a Vivendo e Aprendendo.

Àquela época, eu adorava as festas de São João. Adorava minhas botas plásticas amarelas. Adorava os falsos remendos que mami costurava em minhas calçolas, o bigodinho fake de caipora e também as grossas sobrancelhas de Jeca Tatu que ela pintava, a lápis de olho. Graças aos céus que nossa família não cultivava o ritual do dente podre, de modo que saíamos sempre bonitinhos e lindinhos nas fotos!

Minhas preocupações eram sempre as mesmas: comer tudo o que estivesse ao meu alcance e ir me exibir junto aos meus iguais, mostrando aos garotinhos quem era o fodinha do pulo-sobre-a-fogueira. E não era só dar um pulão; tinha de saber aterrissar do outro lado, sem se esborrachar, mesmo que os olhos estivessem ardendo de fumaça. Eu não me lembro de haver perdido uma única “competição” em toda minha infância; a não ser para para os "grandões". Acho que paguei o preço justo por ignorar o ditado que associa o fogo à cama molhada, pois a minha foi generosamente regada até o nove anos.

Lá chegando, o panorama era dos mais aprazíveis. Muito pé-de-moleque, paçoca e guaraná, e também pipoca, pão-de-queijo e mariola (que eu nunca soube o que é, mas adoro a sonoridade do nome, apesar de não rimar).

Havia alguns palhaços muito coloridos. E muita criançada. Não havia fogueira, mas um monte de brincadeiras para alegrar a pirralhada. Quando eu era criança, não gostava de palhaços. Hoje, acho graça! Para me conquistar, basta dizer “Boa noite, senhores, senhoras e cenouritas!”, que eu me mato de rir! Ser humano é bicho bobo mesmo...

Mas, como dizia antes, naquele tempo o dobrado que tocava era outro; e eu sempre lhes dirigia um olhar desconfiado. E não por acaso, foi de um palhaço que recebi um bilhete, cujo conteúdo lhes revelo:

“Olá, você quer participar de uma brincadeira especial?
Então venha encontrar com a gente perto da piscina!”

Uau! Achei o máximo aquela estória de “ser comunicado” sobre uma brincadeira especial, por meio de um bilhete pessoal. Na certa haviam me distinguido como uma criança especial, entre tantas outras, e por isso estavam me chamando para uma brincadeira igualmente especial.

Notei que o palhaço não havia entregado o bilhete a mais nenhuma criança. Devia ser algo muito petit comité mesmo...

De modo a não despertar olhares curiosos e interesseiros, enchi as duas mãos de pipoca e, enfiando tudo na boca, escapei sorrateiramente pela tangente, em direção à piscina. O alarido foi ficando para trás, e também as luzes. Alguns passos mais e eu estava sozinho, no meio da escuridão, em pleno São João.

Era possível ver uma ou duas cabeças próximas à beira da piscina, mas nada que lembrasse uma brincadeira especial. “Palhaço idiota”, pensei.

Sem titubear, dei meia volta e voltei para a festança, entregando-me à lascívia e à luxúria -características-mor de meu precoce hedonismo.

Mais tarde, quando dera a hora de mami nos buscar, não encontrávamos Pedro, meu irmão mais velho. Procura daqui, procura dali, e tome preocupação! Já era tarde, e ele, apesar de “mais velho”, só tinha nove anos.

Foi quando me lembrei da brincadeira à beira da piscina, e, sem falar com ninguém, corri para lá.



A cena era a mesma: apenas a silhueta de duas ou três cabeças em contraste às águas. Aproximei-me. Pedro estava lá, confortavelmente sentado ao lado de duas meninas, que o chamavam de “nosso namorado”.

O episódio serviu para me mostrar que eu não estava certo de todo, pois nem todo palhaço é escroto; e nem errado, posto que, para aquele tipo de brincadeira, somente pessoas especiais eram convidadas.

Meu irmão é talvez o cara mais especial que eu conheço. Era dia de João, mas foi Pedro quem recebeu a graça das devotas.
Créditos de Imagem: www.ImageShack.us

12 comentários:

Moema Brasil disse...

Como não sabe o que é mariola, Joao?? É um delicioso doce de banana que vem embrulhadinho em um plastico barulhento. E festa bem alternativa essa, não? Palhaço em festa junina?? Mas teve lá sua função, embora vc nao a tenha aproveitado... rs
bjs

Pedernique disse...

Especial foi o resultado dessa aventura junina oitentista...aja jogo da garrafa e "gato mia" com as "nossas" namoradas...e tudo graças a uma figura chamada Rita Siriaca. Lembra? VIVA TU (SÃO) JOÃO !!!

O Maltrapa disse...

Hahaha! Agora já fui avisado, Brasil! Mariola é doce de banana, mas lá onde eu moro, no Morro do Urubu, perto da Boca do Ratão, tem outro significado... Hahahaha!!!

beijão,

O Maltrapa

O Maltrapa disse...

Nossas namoradas? Me inclui fora dessa, Kid; no máximo, minhas amantes! O pegador sempre foi você1

Quanto à Rita, tô aqui tentando, mas não lembro... Quem é?

Abração!

O Maltrapa

Lívia Vitenti disse...

Os comentários mais pertinentes que você vai conseguir de minha pessoa é: ai, que bonitinho!
Ou entao, hihi, se deu mal Joao!
Ou ainda: mandou bem Kid!

O Maltrapa disse...

Maravilha de comentários, Lívia: três! e de uma vez só! E no fim, não me dei tão mal assim... O Kid "liberava" elas para a "galera". Hahahaha!!! Quando se tem 8 ou 9 anos, tudo é "divisível".


O Maltrapa

Chico Sassi disse...

Tudo acaba bem quando termina bem.
E nesse caso "todo mundo" se deu bem!

O Maltrapa disse...

Explique-se melhor, xykw: que papo é esse de "todo mundo se deu bem"? Por acaso você nadou naquelas águas? Mergulhou na piscina? Hahahaha!

O Maltrapa

Unknown disse...

Uma primosura sem igual esse seu causo!!!

O Maltrapa disse...

Obrigado, Marinota... E viva Goianésia!!!

O Maltrapa

Amarilis disse...

Adoro histórias de infância e festa junina. Fui noiva aos seis anos, e hoje pinto bigodinho e faço remendo nas calças do meu filho de 7. É uma curtição! Quem teve infância, quando cresce, vira um cara legal, como o menino maluquinho de Ziraldo, como você parece ser.
Beijo.

O Maltrapa disse...

Cara Amarilis, muita grato pelo delicado comentário. A atenção que você dá ao seu filhote é legal pra todo mundo: "todo mundo quer amor de verdade"...

Beijão,

O Maltrapa