segunda-feira, 8 de junho de 2009

Findinachapêido’s




Fim de semana na Chapada é o ó do borogodó. Antes que pensem coisa ruim, esclareço que "no meu tempo", essa expressão se referia a coisas boas, muito boas. O carioca sobe a serra; o paulista desce; e nós vamos à Chapada.

Pensando nas projeções metereológicas, levamos gorros, luvas, cachecóis trançados pelo Duque de Buckingham e toda malícia possível que nos fosse necessária ao aquecimento de nosso desejo. Foi peso carregado à toa, dado que, ao cair da noite, a massa calórica corpórea foi mais que suficiente para vermos estrelas cadentes em profusão... Que cafofo gostoso em que nos metemos!

Não bastassem as kilocalóricas noitadas, findadas as madrugadas, éramos despertados, sempre à mesma hora, por um passarote dos mais feiosos, que insistia em tucu-tucar a vidraça por onde perpassava a luz de nossa graça. Enquanto não arredássemos de nosso ninho, ele não parava; mas era só esboçar o espreguiçar, e já não se escutava mais nada, tão somente seu cantar.

Respondia abrindo a porta, ao som de Odeon: parararam-rararam-rararam-rararam-rararam-rararam-rararam, Parararam-rararam-rararam-rararam-rarararam...

O bréqui-festi era no carrapicho! “Personalizado”, dizia a propaganda do pacote. E era mesmo. Servido à nossa varandola, com tudo aquilo a que tem direito os casais que acordam sorrindo. Marcya sorri. Sorri o tempo todo. É linda...

Moçoilas à française nos atendiam de pronto, no que eu as convidava a sorrirem com a gente. Acho tão bom sorrir coletivamente!
-O que desejam em especial -, perguntou uma delas.
-Pode pedir qualquer coisa?
-Sim.
-Então me vê uma leitoa à pururuca!... E para ela, suco de laranja.
-Leitoa não tem...
-Poxa, pensei que era personalizado... Então me traz um ovo frito e escreve “João” com catchup, por favor? Hahahaha!!!

A ocasião não era especial somente por isso ou aquilo, mas também porque marcou um reencontro; eu e meu pai há tempos fazíamos bico um para o outro. Razões tínhamos algumas, mas eram bem mais numerosos os motivos para sublimá-las. E nada mais apropriado que uma conversa ao pé de uma cachu, sob um céu azul-anil e um visuba deslumbrante.

Meu pai coloca muita coisa boa na minha cabeça; tão boas que me angustiam, pois abrem fissuras emocionais que evidenciam as crateras lunares existentes entre o que sou e o que quero (ou pretendo) ser.

E, apesar de voltar de lá feliz, foi com alguma angústia que acordei nesta manhã de segunda-feira. Era cedo, bem cedo, e o sol mal bicava o horizonte quando a vontade de fazer xixi fez aumentar mais ainda a sensação de que algo não estava bem. Ô, xixizinho mequetrefe! São tantos os problemas dessa vida!...

Chegando ao gabinete, algumas cartinhas eletrônicas! Uma delas eu preferi às outras, pois relativizou-me de todo, fazendo com que meu filtro sensorial fosse substituído por outro - como fazem as cobras com suas cascas velhas.


Foi-me enviado por Flávia Ilíada, um nome tão incomum quanto bonito. E a ela dedico o texto de hoje.




Viver não dói!




Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive. Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.


Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais.

Autoria non Conosciutta


ps: é dever registrar as 15 Primaveras de Planet, meu sobrinho. O moleque me disse que já tá aprontando, fazendo de tudo! Disse até que já beijou na boca... Tanti auguri, Planet!!!

11 comentários:

Marcya disse...

Antes de sabermos a vida menos dolorida, lá bem no início, o passarinho feioso já avisava: “desperta!” E a gente ficava brincando de dormir mais um pouquinho, mesmo com aquele café-da-manhã todo esperando lá fora! Que bom que acordamos a tempo e nos levantamos para aproveitar...

Adorei o seu contar dessa história... :o)))

Parênteses (frequentemente atribuído a ele, esse texto não é do Drummond. Trata-se de uma misturada de autores desconhecidos com trechos de uma crônica da Martha Medeiros – mas o que importa? A propósito, veja esse link aqui: http://www.carlosdrummond.com.br/ e viva!)

Márcio disse...

Marcya, tem um site bem legal, que talvez você já conheça, que esclarece a história desse e de outros textos que circulam pela internet, falsamente atribuídos a autores conhecidos. O endereço é:

http://www.autordesconhecido.blogger.com.br

O Maltrapa disse...

Se o Contreiras insistir em utilizar meu brógui como praça da alimentação de shopicents, para ficar de conversê sobre assuntos outrem, terei de deletá-lo do meu çaiberespaço... Tenho dito!

Márcio disse...

Ih, olha só o escriba querendo enquadrar meus comentários! Pode deixar que de outra vez vou escrever algo assim: "Pô, mó legal a Chapada, galera! Muita natureza, muita qualidade de vida, integração total com o verde, maior astral! Muito dez esse passeio!". Tá bom assim, herdeiro de dona Solange (rs)?

O Maltrapa disse...

Assim tá melhor! vou até deletar seu importuno comentário inicial e deixar este como fonte reveladora de sua calanguice. Ah, muleque! Di boa?

Márcio disse...

Nada de revisionismo na administração dos comentários, Lima Santos! O que rolou, rolou!

Layliane disse...

Ai João! Esse Texto é a sua cara mesmo!!!!!!!!!
Adorei tanto que tenho que comentar rs...
"...ó do borogodó" mt boa, faz um tempão que nao escuto isso kkkk...
Outra coisa ótima e que tb adoro "...bom sorrir coletivamente!" Dar umas garagalhadas faz tao bem p alma :)
João! Fico contente por estar de bem com seu pai :)
A familia sempre é um bem precioso.
Saudade de tu, homem! Bjo

Caci Sassi disse...

bateu sim.. e sublinho duas coisas: ela se chamar Marcya com ypsilon e o fragmento "um passarote dos mais feiosos, que insistia em tucu-tucar a vidraça".. lindo!

Lívia Vitenti disse...

Eu gosto da chapada, eu gosto de cafés da manha personalizados, eu nunca comi leitoa a pururuca, eu gosto de você e gosto da Marcya (oi Marcya!).
Eu gosto de você gostando do seu pai!

Marcya disse...

Oi, Lívia!
Também gostei de tudo!
:o)))

O Maltrapa disse...

Se ainda não comeu leitoa à pururuca... então é como diz a letra da música: "quem não amou tua cor morena, morreu cego; não viu nada!" Beijão pra ti, Lívia!!!

Mamacita, obrigado pela felicidade e pelos lençóis...

Layliane, bem vinda ao espaço! Você tem razão: família é complicado, mas é o ó do borogodó! Fico contente que você tenha gostado do texto. Beijão!

O Maltrapa