sexta-feira, 10 de julho de 2009

Stalin, ET, Orwell e Sarney


Você já leu 1984? E A Revolução do Bichos? Eu li, há alguns anos.

Ao que consta, ambos são críticas de George Orwell (escritor indiano/britânico, socialista) ao autoritarismo de Stálin que, àquela altura do campeonato, já havia desmoralizado a Revolução Russa em escala planetária, distorcendo e deturpando conceitos essenciais do processo revolucionário, para horror de idealistas, humanistas, ludicistas e utopistas de plantão – e deleite dos reaças, por supuesto.

Em 1984, o personagem principal nos apresenta um mundo completamente dominado pela burocracia e pelos interesses de alguns poucos – um deles, o Big Brother, que tudo vê e tudo sabe. Um mundo onde os cidadãos são vigiados 24 horas por dia, deixando assim, de serem cidadãos para se tornarem tão somente another brick in the wall, revelando um igualitarismo, e não a almejada igualdade.

Não sei se Orwell, ao elaborar seu livro, imaginou o inimaginável, buscando criar um mundo inacreditavelmente bizarro e inverossímil, como forma de explicitar o mal causado pelo “camarada” bigodudo. No entanto, ainda que fruto de sua imaginação (e indignação), é fato que o mundo atual assim se apresenta: bizarro e inverossímil.

Bizarro, para mim, é entrar no elevador e encarar uma câmera te filmando. E saber que o porteiro te vê tirando meleca, retocando a “maquilagem” ou encoxando sua mina.

É falar ao telefone com alguém que está profissionalmente preparado para não entender o que você diz, como se estivéssemos falando com o Itifonron (“E.T. phone home”, para os mais novinhos).

É comemorar o aniversário dos filhos e sobrinhos no Mac Donald’s, numa sala sem ethos, vida ou cosmologia (a não ser para os pimpolhos, cuja visão sociocultural do mundo está mais do que bem representada no fundo piscina de bolinhas coloridas).

É se dar conta de que sua barba (que até Deus deve usar) é entendida como algo anacrônico, ideologicamente perigoso e grave sintoma de falta de higiene.

É acreditar eternamente nas palavras do poeta, segundo o qual, “sempre se tem 20 anos em algum lugar do coração”, e por isso, ser tachado de sonhador ou, mais comumente, de “figura”.

É ser refém do sistema financeiro, da mídia ou dos preconceitos.

É concordar com a perda dos direitos civis em troca de “proteção”.

É saber que há ecos sociais em consonância com a “limpeza étnica” praticada por grupos de extermínio, Brasil afora.

É saber que menores de idade fazem ponto na Esplanada dos Ministérios, próximo à Catedral Metropolitana, na expectativa de atender à corja política de nosso País: “Com camisinha é 5; sem, é 10”. E que maiores de idade fazem ponto na mesma Esplanada, mas dentro de ministérios, câmaras e senados de nossa banânica República.

É ver crianças cada vez menos inteligentes e mais “ixpertas”.

É ver adolescente indolente, que bate no Mestre, e ainda bota na internet.

É ver a inocência sem poesia, sendo perdida, sem alegria ou magia.

Em homenagem a Orwell, já tá na hora de escrevermos o 1984 - Reloaded: contra o totalitarismo local e global e, infelizmente, em forma de não-ficção.
Ps: Convidei o Presidente Sarney para escrever a nova edição; ele ficou de pensar...

8 comentários:

Unknown disse...

Mal você sabe, mas as coisas devem ter mudado muito.... É provável que com camisinha esteja uns 10 e sem, uns 20! Esta promoção 5 e 10 você só vai encontrar mesmo lá na terra do Sarney... Escrever para não chorar, mesmo que em plena sexta!

O Maltrapa disse...

Na verdade, Marinota, as coisas não mudaram nada. Pagar mais ou menos pela desgraça do outro; que diferença faz, né?

Beijão,

O Maltrapa

Livia Vitenti disse...

Vivemos sim o mundo de 1984! Eu infelizmente nao tenho duvidas disso! E além da vigilância constante que nos é perpetrada, ainda nos arvoramos como os vigilantes dos outros, os que ditam regras e os que julgam o certo e o errado. O mundo ocidental é um mundo hipocrita, enganoso e supervalorizado. Nao bastasse sermos obrigados a ser: bonitos, inteligentes, magros, jovens, vegetarianos, entre outros, somos obrigados a pensar que nada disso nos é imposto! Somos obrigados a pensar que somos livres! Vivemos uma falacia diaria, constante! E acreditamos, piamente, na nossa superioridade em relaçao a qualquer pessoa que nao compartilhe nossa logica cultural!
Asi es!

Ludúvida disse...

E aí, o que fazemos nós???
Desnudar a mentira traz consciência a ação, ação a consciência?
O que fazes tu, o que fazes eu, fazemos algo, fazemos algo mesmo?

O Maltrapa disse...

Dukaralho a sua colocação, Lívia! Colocaram uns efeitos especiais e a ditadura ficou parecendo maria-mole, de tão doce e gostosa que é! O livre-arbítrio combatido por toda forma de dominação. A antropologia pode ser uma ferramente fenomenal para uma eventual guinada.

Beijão,

O Maltrapa

O Maltrapa disse...

Certo que fazemos, LudLu! O que estamos fazendo agora, que não... Fazendo?

beijão,

O Maltrapa

Ludsemdúvida disse...

Ao Mundo gritarei:
BLOGG DO MALTRAPAaaaaaaaaaaaaaaaa...
ZIUUUUUUUUUU!

O Maltrapa disse...

Hahahahah! LudLu, você não existe!!!

Muitos beijos,

O Maltrapa