quinta-feira, 21 de maio de 2009

Futebol e Paixão








O futebol é a maior paixão da minha vida.

Surgiu não sei bem como ou quando, mas é certo dizer que foi principalmente pela identificação que tenho com meu pai. Foi ele quem fez despertar em mim a noção de que o futebol era mais que uma modalidade esportiva, mas sim uma das maiores expressões culturais do povo brasileiro.

Ainda criança, com sete anos, tinha o hábito de convidar Chico, dois anos mais novo, a dormir na sala de TV, sempre que meu time jogava tarde da noite. No “meu tempo” não era comum que crianças dessa idade ficassem acordadas até mais tarde; daí a necessidade de se colocar um colchão no chão e fazer uma montanha aconchegante de almofadas (só assim o Chico topava), tendo em vista que sempre dormíamos durante a partida; quando não, antes!

Com o tempo, o futebol foi se tornando a base de quase todas as minhas vontades. Não perdia um único jogo, mesmo que fosse obrigado a escutar a transmissão em radinho de pilha. Se ia à escola, feliz, era porque pensava na hora do recreio, quando poderia jogar. Quando ia ao clube, lá estava eu, mesmo que solitariamente, a bater bola num campo vazio. Vivia “embaixo do bloco”, jogando pelo time da minha quadra ou sendo técnico de times mirim (onde eu também desempenhava a função de goleiro). Em casa, só queria saber de programas esportivos. Tenho muitos “Globos Esportes” e “Esportes Espetaculares” gravados em VHS. Tenho o jogo que Pelé disputou pela Seleça, na Itália, em 90, quando fez 50 anos. E o de despedida do Galinho, no Maracanã, em 89. E mais um punhado de outros jogos – a maioria sem qualquer importância.

Meus irmãos não eram da mesma estirpe. Estranhavam meu vício. Eu, em vão, tentava os convencer de algo que, em verdade, não poderia ser explicado. Desse modo seguimos, por muito tempo, apartados.

E assim, de repente, as coisas deixaram de ser com eram para ser como são, e eu passei a ter companhia durante os jogos. Acompanhar as partidas do Flamengo se tornou um ritual de família desde o fim de nossa adolescência. É o momento sagrado, da união, onde todos os não interessados (leia-se, namoradas, cônjuges e afins) deveriam abrir mão de qualquer anseio durante aqueles 90 minutos.

Ontem o Flamengo foi a Porto Alegre, disputar, contra o Internacional, uma vaga nas semifinais da Copa do Brasil. Era o jogo mais importante do ano, contra um adversário muito forte, num Beira-rio lotado por 50 mil colorados insanos. Ambas as equipes foram campeãs regionais, e a imprensa já alardeava a partida como sendo “uma final antecipada”, fazendo crescer nossas expectativas.

Chegou a hora! Estávamos todos em frente à TV, ansiosos, como qualquer torcedor que se preze. Excitação.

O Inter saiu na frente, após falha grotesca de nosso jogador mais marrento. A excitação dá lugar à apreensão. Fim do primeiro-tempo.


Aprendi a acompanhar aos jogos ao mesmo tempo em que acompanho meus irmãos torcendo. É gostoso vê-los se emocionar com algo que, em outras épocas, quase não lhes fazia sentido.


Iniciada a segunda etapa, o embate ficou mais nervoso e disputado. Em bela jogada coletiva, empatamos o jogo! O resultado nos favorecia; estaríamos classificados! Da tensão ao alívio. Quanto maior a tensão, maior o alívio; mais gostosa fica a vida! E todos agora sorríamos e brincávamos entre si. Mas era impossível relaxar, pois faltavam ainda 15 minutos e a pressão seria fortíssima.

Aos 44 do segundo tempo, falta (!) próximo à meia-lua rubro-negra...

Como sou o “antigão” da parada, aquele que sabe “tudo” de futebol, sou dado a arroubos premonitórios, como quem, pela experiência, tem o poder de saber o que está por vir. Desta feita, porém, calei-me. Sabia que a falta era perigosa (quase um pênalti), e falar qualquer coisa poderia ser interpretado como mau agouro.

Andrezinho, ex-jogador do Mengo, se aproxima para fazer a cobrança. Todos ficam em silêncio. A bola chutada. O goleiro assistindo. A rede estufada... O estádio explode! E nós, permanecemos em silêncio.

Ninguém se mexeu. Ninguém praguejou. Ninguém lamentou. Apenas suspiramos profundamente, coletivizando nossa frustração.

O momento em que se deflagra uma derrota é sempre doído. Mas quando se trata de uma derrota importante, a dor é bem maior.

Cessam-se as brincadeiras e os motivos para se sentir bem desaparecem. Tudo deixa de ser interessante. Nada é gostoso. A cerveja se torna amarga e o álcool ingerido só faz a cabeça ficar mais quente, em ebulição.

Encerrada a partida, fomos todos embora. No carro, um comentário meu sobre o jogo foi interrompido: “Esquece essa história!” - disse o Chico. Silenciei.

Após deixá-lo em casa, segui meu caminho.

A dor de uma derrota é, guardada às devidas proporções, como a dor do amor, posto que perdura até a próxima conquista. Mas enquanto ela não vem, haja tristeza!

Chegando ao Urubu, dei-me conta de que não estava sofrendo tanto, e estava pouco me lixando para a próxima partida (contra o Santo André, no domingo à noite, pelo Brasileirão, no pêiperviu do SPORTV), pois meu pensamento ainda estava lá, no instante do maldito gol do Andrezinho, quando a dor se fez presente em meio às pessoas que amo, e que agora são, como eu, reféns da mesma paixão. Estamos todos juntos agora. Estamos todos bem.





“Vamos Flamengo, vamos ser campeão (sic), vamos Flamengo, minha maior paixão, vamos Flamengo!!!”


13 comentários:

LudLu disse...

Depois que meu Cuquinha querido ergueu seu ego das profundezas da agonia; anestesiou-se no título de Campeão Carioca. Calma que , em breve, os espíritos retornarão aos seus respectivos lugares.
Muita força naquele dia, até euzinha entrei na guerra, uiiii...

CausosContosPoesia&Sol disse...

Fui dormir com vaga na mão...acordei... e graças a Deus anestesiada para a decepção...tem nada não!!!! Vamos Flamengo Vamos ser campeão!!!
Isto é a febre... ser flamengo tem disso....

Ana Cabral disse...

Me recuso a comentar um post sobre futebol flamenguista. O dia que você falar do Cruzeiro terei algo a comentar!
Bjs

Márcio disse...

Rapaz, pode me chamar de preconceituoso, politicamente incorreto, a porra que for, mas já disse e "torno a repetir": Ibson nunca foi nome nem de gente, quanto mais de jogador de futebol! Se o Flamengo tivesse despachado há tempos essa ofensa à eufonia, talvez tivesse tido melhor sorte na quarta-feira!

O Maltrapa disse...

Ana, quando o Cruzeiro merecer qualquer espaço, terá seu texto. Acabei de ler a biografia do Tostão, excelente centroavante do seu time, nos anos 60. Sugiro a leitura; o texto é curto, simples e tocante. Beijão,

Maltrapilho

O Maltrapa disse...

É, Contreiras, o Ibson deu mole... Mas não o culpe, e sim aos pais! Tudo, rapaz TUDO é culpa deles! Hahahaha!

Abraço,

Maltrapa

O Maltrapa disse...

Inaê Salsa, se bem entendi você não assistiu a partida até o fim, certo? E também não viu o momento fatídico do gol, né?... Eu pergunto: que torcida é essa?

Beijo,

Maltrapa

Caci Sassi disse...

Pensei que a coisa mais importante da sua vida fosse eu!? Me enganei? Ah! Sem essa..

O Maltrapa disse...

Eui disse que o futebol era a maior PAIXÂO da minha vida, e não o maior AMOR...

Marcya disse...

Como é que é?

Márcio disse...

Culpa dos pais? Discrepo! A culpa é dele mesmo, pois, se não mudou o nome, tinha ao menos de arranjar um apelido mais civilizado. Mas vá resolver suas questões edipianas antes, que é melhor. Abração!

Pedro Caetano disse...

Graaaaaaaaande John²!
Achei o texto del gran carajo.
Emocionante, preciso, emocionante (de novo mesmo).
Não dê ouvidos à maldade alheia, e creia...
Somos nós que fazemos do nosso time o que ele é.
NAÇÃO.
Que a nossa torcida conjunta leve bons ventos à Gávea.
Beijo grande.

Pollyana Maria disse...

Qualquer comentário de alguém que não entende "lhufas" de futebol e se diz botafoguense só porque a figura masculina mais próxima - seu tio - torce para o respectivo time, para um outro alguém - você - apaixonado pelo esporte, e pelo Flamengo, se torna desnecessário. Mas é preciso dizer que a foto ficou O MÁXIMO! Que sorrisinho mais doce, gente !!!!