segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Bonde e a Floresta



Ontem fui assistir à Ararinha Azul, no cinema. Coisa de 3D e tudo; diver$ão garantida.


É de encher os olhos a floresta de Mata Atlântica - que de tão majestosamente representada, parecia a Amazônica – e também adorei o barulho do bonde de Santa Tereza, quando uma alma sensível teve a delicadeza de deixá-lo fluir por tenros segundos, para deleite de ouvidos saudosistas; tlec-tlec, tlec-tlec, tlec-tlec... E as ararinhas lá, com carinha de felizes, enquanto o vento serenava-lhes a penugem.



Os desenhos Disney sempre foram uma demonstração soberba de técnica permeada por um etnocentrismo atroz. Eles deveriam contratar uns antropólicos, a ver se despertam os roteiristas e produtores para a visão que os outros povos têm da existência. De todo modo, é sempre interessante ver como somos vistos por olhos outros, além de ser gostoso ver o Rio desenhado numa tela tão grande e tecnologicamente bem resolvida (malgrado as lágrimas causadas pelo apetrecho tridimensional indispensável). Ver a própria casa num desses desenhos, então, me parece algo que beira o surrealismo!



No futuro, conversando com meus filhos, vou poder lhes dizer: “Olha, foi ali, naquela casinha, que papai e mamãe se conheceram, bem na hora em que a Blu e a Jade piruetavam felizes pelos céus aqui do morro; olha lá!!!”, - e, na tela, a cena perfeitamente reproduzida, com direito a fusquinha estacionado em frente à porta e tudo.



Depois do cinema, pizza – a melhor pedida para um domingo de chuva.



Ararinha pra cá, ararinha pra lá, e meu sobrinho me pergunta sobre o que mais havia me interessado no filme.



- "Gostei do barulho do bonde."


- “?... O que é bonde?” - retrucou.


- “É aquele trem que anda dentro da cidade...”.


- “Ahhh...”.



(Tomara que, em breve, as futuras gerações não tenham de perguntar “o que é floresta?”.)



O Cristo tava lá, assim como o Bondinho e a Favela. E também o Samba, o Choro, a Bossa nossa e o Carnaval – o Funk, não. O Maracanã apareceu, mas pouco. Falta de respeito.



Senti muito por não ter visto nenhuma bandeira do Flamengo. O que pode comprometer o sucesso do filme.



Nota 6

. imagem:imotion.com.br

10 comentários:

Marina disse...

Acho que nem preciso te dizer o quanto adoro os seus textos,pela clareza e docilidade.Ainda não vi o filme(a Jú amou e deixou a Gabi com inveja)mas já me antecipo em concordar,a falta da bandeira do Flamengo,pode e muito,comprometer todo o sucesso do filme.Beijo

Amarilis disse...

Beleza pra olhar! Nota 6. Preço da inteira: 28 reais.
O que eu mais gostei foram os micos. No Rio, até mico é malandro?Antropólicos djá! ;-)

O Maltrapa disse...

Valeu, Marina!... Vou dar um jeito de levar Gabi, numa próxima empreitada!

Beijão!

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Dona Amarilis, pobres micos!... Se soubessem que a malandragem do tempo do bonde era tão mais sagaz...

O Maltrapa

Márcio disse...

Na sexta à noite busquei algo de interessante para ver no cinemark do pier, mas não me entusiasmei com nenhuma das opções, incluindo a da ararinha azul, ainda mais com a quase "obrigação" de ver o filme em 3D. Já li em mais de um lugar que a Mata Atlântica (ou o que restou dela) é mais rica em fauna e flora que a Amazônica, de modo que não deve ser à toa a riqueza de detalhes que você viu. Quanto à bandeira do Flamengo, malgrado o fato do diretor do filme ser brasileiro, o máximo que imagino que poderia acontecer é as cópias exibidas no Brasil trazerem essa "cortesia". Mais ou menos como o clip que Michael Jackson gravou num morro do Rio e no Pelourinho, dirigido por Spike Lee, e que só foi mostrado em terras tupiniquins, passando uma versão diferente, não localizada, no resto do mundo.

O Maltrapa disse...

De fato, Contreiras, a Mata Atlântica é bem mais rica em biodiversidade, embora o que me chamasse a atenção tenha sido a vultosidade dos arvoredos; altíssimos, de Samaúma para cima!

De resto, os caras tentaram fazer um agrado geral colocando uma ou outra camisa da Seleção, sem contar a forçação de barra ao termos de assistir a uma partida do Brasil acontecendo em pleno Carnaval!? Só mesmo nos EUA... Alguém tem de lembrar a eles que o nome do filme é "Rio", e não "Brasil".

Ps: minha primeira opção era ir ao Zoo, ver os tigres brancos, mas tava mais lotado que o Maraca! :p

O Maltrapa

Carol Sakurá disse...

Olá!

Saudades daqui,Maltrapa!

Deu vontade assistir.O Rio é lindo e mágico!

Fiquei pensando que a maneira com que descreveu as cenas do filme,deve ter o mesmo sentimento que os cariocas antigos descrevem em versos e notas musicais a beleza no RJ antigo e malemolente.

Abraço!

O Maltrapa disse...

Pois é, Sakurá, de certo, sou muito saudosista. Admiro coisas, modos e, acima de tudo, o ritmo dos outros tempos.

Acho que as formas da modernidade são desrespeitosas - se é que me faço entender.

De todo modo, o Rio de Janeiro continua lindo...

Abração,

O Maltrapa

Carlos Kurare disse...

Maltrapa,

Assisti a animação Rio esta semana, me deu saudades de visitar o Rio. Tenho saudades do Rio de antigamente, mas acho que é pelo fato de que antigamente eu era jovem!
Um abraço!

"Foi por ter sido pisado por muitos pés que me tornei um bom vinho!"
Carlos Kurare

Anônimo disse...

A amazonia tem conhecida entre 40 a 60 mil especies vegetais, sendo quase 18 mil endemicas, isso falando em diversidade botanica. A mata atlantica tem 20 mil especies vegetais sendo 8 mil endemicas e, na mata atlantica, em um unico hectar se encontra maior concentracao de especie de arvores,sendo assim a mata atlantica "a mais rica em diversidade em um unico hectar".Na Amazonia ainda nao se tem um dado atual, mas supoe-se que a amazonia colombiana pode ser bater o novo recorde, ja que a Colombia e o pais mais biodiverso em quantidade vegetal do planeta, e ainda a amazonia colombiana tem o titulo da maior diversidade de orquideas do mundo, com o numero de dificil ultrapassagem, quase imbativel .
Dados pesquisados e comprovados.

O Maltrapa disse...

Hahaha! Do jeito que você "narrou" a situação, mais parece uma competição entre nossos biomas!

Eu enxergo essa relação de outra forma, na qual cada qual nos dá o que precisamos, tudo a seu tempo; a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica com seus 4 milhões de anos, e o Cerrado, com seus 35. A riqueza está no Todo.

Grato pela "audiência", e também pelas importantes informações.

Um abraço e bom 2012,

O Maltrapa