quarta-feira, 24 de março de 2010

Hip Hop Nacional - É Nóis na Fita, Mano Brown! (um texto para se ler cantando)

Dobrando a esquina de mármore, ouve-se o inconfundível ruído da periferia, expressado na batida sincopada do rap marginal. “Mente sã, corpo são; só quem tá pilhado se segura; curte a marcação! Parada bloqueada, se liga, playboyzada, que chegou a nossa raça e a barra tá pesada!...”

Então, surge um grupo de manos e minas.

Ainda é cedo, são as primeiras horas da manhã. Mesmo assim, elas dão pinta de que estão, há muito, preparadas. Caminhando à frente da rapaziada, têm os cabelos molhados, escorridos, colados na cara chapada. Lápis de olho, e maquiagem marcantes. Trazem também nas roupas, especialmente nas calças, marcas de falsos brilhantes.

As unhas coloridas e, claro, indefectíveis tênis de corrida berrantes. São elas que se põe a cantar, trazendo consigo o ritmo forte da batida que ecoa pelo alto-falante do aparelho celular.

Logo atrás, 4 ou 5 manos, com cara fechada, acompanham as minas, com menos badulaques, mas em clara expressão indolente; pura presepada.

Vão abrindo espaço, perpassando os transeuntes, ignorando os raros passantes, fazendo de todos, postes, espectadores de seus rústicos rompantes.

É a hora deles. O palco é deles. A faixa é deles. E os corredores quase vazios de piso brilhante apenas enaltecem a cara desse povo adolescente, fazendo desse instante uma alegria; a hora mais marcante do dia.

Logo, logo, porém, sumirão de cena e assumirão o ofício diário; trazendo papéis, comendo pastéis, preocupados com o horário. É a turma da Câmara: os estagiários.

Deslumbrado, cruzo por eles; passo rente e vou em frente, fazendo coro àquela gente: “Mente sã, corpo são; só quem tá pilhado se segura; curte a marcação! Parada bloqueada, se liga playboyzada, que chegou a nossa raça e a barra tá pesada!...”

6 comentários:

Carol Sakurá disse...

Oi,Maltrapa!
Este é o retrato da geração y.
Será que eles ficaram na memória?
Dificilmente!Beijos!

O Maltrapa disse...

Oi, Carol!

Já ouvi falar em "Generación Y", mas nunca soube ao certo o que é. Quanto à rapaziada do texto, posso dizer que foi bem interessante vê-los pelos corredores deste Congresso Nacional a ocupar o lugar dos ilustres parlamentares de maneira original! Tudo no ritmo!

Beijão,

O Maltrapa

Marcya disse...

Para o seu rap faltou pouco pois a rima tava em cima! Mano, mina, adolescente, brilhantes no rompante de ser gente!
:oP

Catarina Franco disse...

Por sorte somos todos, cristais multifacetados, que agora somos um, e daqui a pouco somos outro, assim como esses jovens estagiários ocupados com seus horários, uniformizados e dentro de um padrão. Rompendo essa postura estão eles, logo após o espediente, fazendo pose agora de outro tipo de ser. Assim somos todos.

Márcio disse...

Já pensou em colocar isso em versos? Não vai ser difícil. Como Marcya falou, as rimas já estão aí. Abração!

O Maltrapa disse...

Márcio e Marcya, o texto faz mais sentido quando é cantado, e não apenas lido.

Como vocês perceberam, os versos já estão aí!

Abração,

O Maltrapa