domingo, 29 de junho de 2014

Crônicas da Copa - É tempo de Copa!

Hermanos colombianos na mira do Brasil
A Copa do Mundo começou!

Cá entre nós, gente do metiê, essa tal “fase de grupos” só serve aos anseios políticos da FIFOTA, para fazer de conta que todo mundo participa da festa e angariar votos. Findadas as preliminares, porém, chegamos aos finalmentes, a fase mais gostosa, que dá aquele friozinho na barriga e um comichão na bexiga, fazendo a machaiada segurar o piu-piu e a mulherada apertar o xibiu.

É quando o cidadão não consegue ir à geladeira buscar uma gelada ou sequer ir ao banheiro dar aquela aliviada. É quando aparece a mãe, a tia, o cunhado, a irmã, o primo e mais uma porrada de gente que nunca se reuniu para ver um jogo, e que agora, juntos, torcem como loucos pela Seleção. É o gol que arrebata, é o empate que maltrata, é a bola no travessão que quase mata, enfarta.

A família volta a ser a célula-mater da Pátria e, como num estádio, quem não tem afeição ou intimidade já se abraça, vibra, pula, fibra! É o abraço suado, embriagado, o calor de quem a gente gosta, ou nunca gostou. Mas é por uma boa causa; é pela alegria. Não com “muito orgulho e muito amor”, mas por amor verdadeiro, por inteiro. Vontade de olhar nos olhos, de gritar, chorar e sorrir juntos. Quase sexual. Vontade nacional.

É tempo de Copa! É tempo de corpo. De pegação de línguas; de línguas úmidas, molhadas, enroladas. É tempo de união entre os povos. Tempo de celebração, confraternização, emoção. É tempo de Copa, pôrra!  

Não dá para perder o bonde e deixar a vida passar porque a banda não toca do jeito que você quer. Se solte! Se deixe! Largue de dureza, hômi! É mês de festa, de São João, quadrilha, Lampião! Se avexe, caba, porque é mês de Copa e ela está ali, piscando pra você, como cavalo encilhado, como uma moça, um afago, um gol escancarado.

Se o Diabo mora ao lado e patrocina o rebolado, se benza e tome banho de ervas para tirar o mau-olhado, mas não se vingue do que nos é tão adorado. Não guarde mágoas do amigo alienado, baba-ovo do Galvão e tiete do Felipão. Releve. Esqueça. Esmoreça e aqueça o coração. É tempo de Copa, meu irmão!

É tempo de uma energia que não rola toda hora. Não faz sentido ser tão rígido, intransigente, brigalhão. É tempo de Copa, cara! Do sofrimento desnecessário, angustiante, redentor. É tempo de vitória suada, nos pênaltis, nos acréscimos, inesperada. Tempo de vitória sofrida. Tempo de vida.


foto: joão sassi

texto originalmente publicado no blog especializado Borogodó Futebol Clube






3 comentários:

Márcio disse...

Rebatendo um pouco seu ponto de vista sobre a "superioridade" dos mata-mata sobre a fase de grupos:

http://www1.folha.uol.com.br/esporte/folhanacopa/2014/07/1480194-como-fazer-duas-copas-do-mundo-em-uma.shtml

O Maltrapa disse...

Acho que a Copa é o tipo de coisa que não se pode correr o risco de enjoar. Não tem de durar mais, mas sim, ter gostinho de quero mais.

O sistema atual não é perfeito, mas é, sem dúvida, muito emocionante a partir da fase de mata-mata. Você não se posicionou explicitamente, mas suas aspas deixam no ar que você gostou da sugestão do Vinícius Torre - não chega a ser novidade para quem gosta dos pontos corridos. No mais, já não posso com essa mania de lançar mão do conceito de "justiça" para delinear os destino do futebol!

Abração!

Márcio disse...

Mesmo sendo a favor de pontos corridos no campeonato brasileiro, não assino embaixo de 100% do que está no artigo. Gosto do sistema atual justamente porque combina uma certa leveza da fase de grupos com o tudo ou nada a partir das oitavas. Ele permite a uma seleção a oportunidade de jogar mal (empatar ou perder) e se recuperar depois. Também é bom para o turismo, pois quem vem de fora tem pelo menos três jogos de seu time garantidos para ver. Essa parte lúdica é tão importante quanto a conquista em si. Postei o link justamente para discordar (saudavelmente, claro), já que nenhum de seus outros visitantes é chegado a essa prática ...