sexta-feira, 25 de março de 2011

Namorinho de Portão



Após a aula, sob o acachapante sol do meio-dia, três adolescentes - dois garotos e uma menina - conversam ao lado de um carro estacionado próximo à escola. Os dois, de pé, calados e de braços cruzados, de boné e aspecto ‘suburbano, estilo rapper’; ela, falante e meiga, sentada no capô, de camisetinha preta e bracinhos à mostra.



Enquanto explica alguma coisa aos meninos, ela deixa o delicado casaquinho branco que trazia à mão cair no chão... Passam-se intermináveis 10 segundos, até que ela mesma o resgate das marcas de borracha e poças de óleo no asfalto.



Para além de saudosa nostalgia quanto ao romantismo de outrora, ponho-me a conjecturar sobre o futuro...



Como se deixa um casaco branco de uma moça, caído ao chão, sem se esboçar qualquer reação?



Bruta geração.



photo by joão sassi

4 comentários:

Luna disse...

os meninos já nascem ogrinhos, aí só se desenvolvem, e se transformam em trogloditas selvagens, rs.

O Maltrapa disse...

Negativo, Luna.

Canta Paulinho da Viola, em alusão a Rousseau, no espetacular samba do Chico Brito: "O Homem nasceu Bom, e se Bom não se conservou, a culpa é da sociedade que o transformou...".

A proliferação desenfreada de ogrinhos não é espontânea, mas fruto de um estímulo tanto cuidadoso quanto artificial, promovido por aqueles que enxergam na nuclearização social, onde o indivíduo só enxerga o próprio mundo e o próprio ciclo, um instrumento de desagregação da própria sociedade, tornando-a, portanto, fragilizada e desunida. (não quis ser redundante, mas os argumentos me levaram a tal. :p)

Pobres ogrinhos... Já imaginou o quanto devem chorar, no infinito íntimo de suas vazias solidões?

Beijão,

O Maltrapa

Amarilis disse...

Tempos bicudos, meu caro Maltrapa! Uma hora a gente se acostuma a recolher o próprio casaquinho branco...

Mas tem um lance muito bem sacado em toda essa conversa. Em tempos cegos de afeto, como esses nossos, quem tem um olho para ver os outros é rei.

É bom visitar você. Beijos.

O Maltrapa disse...

Pois sim, Dona Amarilis!...

O mundo dá voltas tão tortas... E o rumo da vida acaba incerto, mutantis. Insensibilidade, por ora, é moda; o amanhã será sempre bem-vindo!
Você também!

Beijão,

O Maltrapa