Clima de Copa no Varjão... Será? |
O bar do Farinha Azeda, no
Varjão, antes um mocó improvisado na garagem de casa, segue sendo apenas um
mocó improvisado na garagem de casa. A diferença é que, em lugar de familiares
e alguns birituns que freqüentavam o local, a nova geração chegou com força,
ocupando todo o espaço e moldando-o a sua maneira.
Na entrada, uma camionete
estacionada carrega na caçamba uma enorme estrutura de madeira cravada de caixas
de som e outras parafernálias estereofônicas. Do lado de dentro, uma
juventude que adora ostentar lota a garagem, muitos dos quais com bermudas, óculos escuros e
bonés à la Chorão (ou Neymar). Quase todos na casa dos vinte anos, quando muito. Essa
nova freguesia, formada pelos rebentos da primeira geração que imigrou pro Varjão, é quem dá o tom da
festa.
A camisa da Seleção não é mais
unanimidade. Na Copa passada, a canarinho reinava soberana e tinha benevolência
com algumas camisas de clubes brasileiros. No cenário atual, no entanto, ela
tem de disputar espaço com pseudo-torcedores da Argentina, da Espanha, da
Itália e até da Croácia, adversária do time brasileiro no jogo inaugural. Quem salva
a pátria são as meninas; em sua maioria, com a camisa amarela brasileira.
Como de hábito, a ensurdecedora
altura do som impede a troca de impressões sobre o jogo, entre os habitués. Quanto mais alto o
volume, maior a emoção pela Seleção, parece... Qual nada! Dá-se o intervalo e o funk domina
tudo, num estampido colossal; é como se toda a história contada em campo,
durante o primeiro tempo, não existisse. A geração ostentação não liga para o
que passou; é passado.
O segundo tempo tem início e
tardam alguns minutos até que a turba retome o espírito de Copa, desligando a
música e trazendo o Galvão de volta. Muitos não conseguem. Já estão intoxicados
pelos hormônios da adolescência e pelo álcool em abundância. Para estes, a
Seleção é uma marca de sucesso, e a admiração por ela se revela mediante conquistas,
e não pelo envolvimento emocional. As minúcias são poucas – bobagens – e o que
vale é gozar no final.
Dentro do bar, o clima é de
rivalidade entre gangues e não de comunhão entre os cidadãos: disputas pelas
meninas e discórdias veladas impedem a confraternização.
O apito final marca o início da
festa real. Mc Julinho Top e sua trupe abafam de imediato o Galvão, fazendo eclodir violentamente um funk proibidão. A noite chega cheia de malícia, enquanto cigarros, vodcas e olhares enviesados fazem a Seleção desaparecer em meio ao fumacê...
foto: joão sassi
2 comentários:
O que aconteceu com os frequentadores originais do bar?
É possível, Márcio, que muitos estivessem reunidos numa tal "domingueira pós-partida", em uma rua próxima. Ouvi dizer que é o tipo de evento que reúne boa parte da galera interessada numa farra. De todo modo, o que me chamou muito a atenção foi a troca de hábitos dentro do boteco; uma geração engoliu a outra.
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