Naquela noite, todas as energias convergiam para um mesmo fim... Cheguei lá, minutos após a meia-noite. A atmosfera estava vibrante, e eu, excitado.
Tanto vinho!... Acho que tomei o resto da garrafa no gargalo, caminhando do carro até a festa - o último gole, a alguns metros da entrada; sincronia perfeita.
Um alô para alguns vultos pouco reconhecíveis à minha volta; muita adrenalina, abraços e perfumes femininos. E lá de baixo, os ruídos da bagunça!
O acesso se dava descendo por uma escada metálica, em espiral. Muitas luzes e barulho; barulho do bom. Som e felicidade. Alguém se aproximou em companhia de outro alguém. As duas me olharam com largos sorrisos no rosto - a gente sabe quando tem alguém querendo jantar a gente. E eu nem mesmo havia descido do último degrau.
Quando desci, estava já escolhido e colhido, cercado, nos braços da mulherada... Mas, não! Recuei. Agradeci. Abandonei. Fugi! Busquei a planície. Queria me localizar, olhar à minha volta...
Então, enxerguei uma mulher e vi muitos movimentos pelo ar. Esguia e alta, em plena harmonia e sensualidade. Elas costumam ser desengonçadas quando passam de certa altura, mas não ela... Ela dançava solta, como se fosse dona da festa – e não era. E dançava como se fosse a mais linda da festa; isso ela era... Isso eu senti. Isso eu já sabia.
Atravessei o salão (como se faz naqueles filmes antigos em que a pista de dança ainda se chamava salão) e fui em sua direção, decididíssimo da vida. Parei diante dela e, aproximando minha boca de sua orelha, falei, suavemente:
- Posso me apresentar?...
Vi seus olhos brilharem ao mesmo tempo em que um sorriso sincero brotou em seus lábios. Dei à minha voz a gravidade adequada, emprestando-lhe um tom que a arrepiasse... Homens sabem fazer essas coisas.
Eu me sentia plenamente à vontade, e sabia que tinha diante de mim uma força incomum da Natureza – e com ela, eu podia ser também uma fortaleza. Não tive qualquer receio em abraçá-la, passando minhas mãos por sua cintura, encarando-a naturalmente, sorrindo com ela, cúmplices.
Então, uma música dos Beatles irrompeu pelas caixas de som...
- Eu adoro esta música!... -, disse um.
- Eu também!... -, disse o outro.
E veio o beijo...
Naquele momento, senti que éramos feitos do mesmo material cosmológico, onde emoção, lembrança, memória e sentimentos afloram sem conflito. Foi o beijo da minha vida.
photo by joão sassi
2 comentários:
eu te amo
Postar um comentário