quarta-feira, 18 de junho de 2014

Crônicas da Copa - A Seleção e a geração-ostentação

Clima de Copa no Varjão... Será?
O bar do Farinha Azeda, no Varjão, antes um mocó improvisado na garagem de casa, segue sendo apenas um mocó improvisado na garagem de casa. A diferença é que, em lugar de familiares e alguns birituns que freqüentavam o local, a nova geração chegou com força, ocupando todo o espaço e moldando-o a sua maneira.

Na entrada, uma camionete estacionada carrega na caçamba uma enorme estrutura de madeira cravada de caixas de som e outras parafernálias estereofônicas. Do lado de dentro, uma juventude que adora ostentar lota a garagem, muitos dos quais com bermudas, óculos escuros e bonés à la Chorão (ou Neymar). Quase todos na casa dos vinte anos, quando muito. Essa nova freguesia, formada pelos rebentos da primeira geração que imigrou pro Varjão, é quem dá o tom da festa.

A camisa da Seleção não é mais unanimidade. Na Copa passada, a canarinho reinava soberana e tinha benevolência com algumas camisas de clubes brasileiros. No cenário atual, no entanto, ela tem de disputar espaço com pseudo-torcedores da Argentina, da Espanha, da Itália e até da Croácia, adversária do time brasileiro no jogo inaugural. Quem salva a pátria são as meninas; em sua maioria, com a camisa amarela brasileira.

Como de hábito, a ensurdecedora altura do som impede a troca de impressões sobre o jogo, entre os habitués. Quanto mais alto o volume, maior a emoção pela Seleção, parece... Qual nada! Dá-se o intervalo e o funk domina tudo, num estampido colossal; é como se toda a história contada em campo, durante o primeiro tempo, não existisse. A geração ostentação não liga para o que passou; é passado.

O segundo tempo tem início e tardam alguns minutos até que a turba retome o espírito de Copa, desligando a música e trazendo o Galvão de volta. Muitos não conseguem. Já estão intoxicados pelos hormônios da adolescência e pelo álcool em abundância. Para estes, a Seleção é uma marca de sucesso, e a admiração por ela se revela mediante conquistas, e não pelo envolvimento emocional. As minúcias são poucas – bobagens – e o que vale é gozar no final.

Dentro do bar, o clima é de rivalidade entre gangues e não de comunhão entre os cidadãos: disputas pelas meninas e discórdias veladas impedem a confraternização.

O apito final marca o início da festa real. Mc Julinho Top e sua trupe abafam de imediato o Galvão, fazendo eclodir violentamente um funk proibidão. A noite chega cheia de malícia, enquanto cigarros, vodcas e olhares enviesados fazem a Seleção desaparecer em meio ao fumacê... 


 foto: joão sassi

2 comentários:

Márcio disse...

O que aconteceu com os frequentadores originais do bar?

O Maltrapa disse...

É possível, Márcio, que muitos estivessem reunidos numa tal "domingueira pós-partida", em uma rua próxima. Ouvi dizer que é o tipo de evento que reúne boa parte da galera interessada numa farra. De todo modo, o que me chamou muito a atenção foi a troca de hábitos dentro do boteco; uma geração engoliu a outra.